Um dos municípios mais pobres do estado não tem nem um hospital próprio. Cidade teve até agora 134 casos de Covid. Como mostrou o RJ1...
Um dos municípios mais pobres do estado não tem nem um hospital próprio. Cidade teve até agora 134 casos de Covid. Como mostrou o RJ1, empresa diz que ainda não entregou equipamentos; prefeitura diz que eles já estão instalados.
JAPERI - A população de Japeri, na Baixada Fluminense, nunca teve um hospital no município. Mas com a pandemia, a prefeitura decidiu construir um hospital de campanha.
E para equipar a unidade, a prefeitura comprou respiradores de uma empresa que não existe no endereço informado, como mostrou o RJ1 nesta sexta-feira (19).
Ainda de acordo com a reportagem, os equipamentos além de ultrapassados, custaram muito mais que o valor de mercado: mais de R$ 1,8 milhão.
Desde o começo da pandemia, Japeri registrou 134 casos de Covid-19. No ranking das cidades com mais casos, aparece na 50ª posição, entre os 92 municípios do estado.
Japeri é um dos municípios mais pobres do estado, com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).
E mesmo com mais de cem mil habitantes, não tem um hospital próprio. A única unidade de pronto socorro do município é uma policlínica, que não tem leitos de UTI. Pacientes são obrigados a procurar atendimento em hospitais de outro município.
As irregularidades com a compra de equipamentos que não atendem às necessidades dos pacientes de Covid-19, não são um privilégio da Prefeitura de Japeri.
Funcionários da Secretaria de Saúde do estado foram presos ou afastados por conta de fraudes na montagem de hospitais de campanhas e compra de equipamentos, como aconteceu na Operação Mercadores do Caos.
Mesmo com a doença relativamente controlada, a prefeitura decidiu construir um hospital de campanha para tratar dos doentes de coronavírus. Publicou no Diário Oficial, no início de junho, uma dispensa de licitação para dois contratos com a empresa EPN Manutenção e Venda de Equipamentos Médicos.
Um dos contratos, no valor de R$ 1, 270 milhão, foi para a compra de respiradores. Mas o documento não especifica a quantidade. Outro contrato, com custo de R$ 537 mil, para a compra de bombas infusoras e equipamentos, que não foram especificados.
A reportagem do RJ1 mostrou que no endereço onde a suposta empresa está registrada, há uma casa. Os vizinhos contaram que lá, moram Elvis Policarpo Neto e a mulher, Allethea Policarpo. O casal está registrado como sócio da empresa, mas ninguém nunca ouvir falar de empresa no local.
Por telefone, a produção da TV Globo, conversou com Elvis Policarpo Neto. Ele confirmou a existência do contrato, mas não soube dizer nem quantos respiradores teriam sido comprados.
"Olha, isso daí eu passei uma procuração para um rapaz comprar, mas na verdade a venda não foi nem concretizada ainda porque eu ainda não recebi nada, não recebi dinheiro", disse
Policarpo também não soube explicar que tipo de equipamento foi comprado pela prefeitura de Japeri.
Embora o sócio da empresa tenha dito que os equipamentos estavam na empresa e ainda nem foram entregues, a prefeitura deu outra versão. O município afirma que os respiradores chegaram na terça-feira (16) e que já estão no hospital de campanha.Imagens enviadas pela administração mostram os equipamentos.
Em nota, a prefeitura disse que comprou dez equipamentos do modelo Bird 6400, ao custo de R$ 78.400, cada um. Também foram comprados 20 monitores, no valor de R$ 24.300, cada um.
Equipamentos obsoletos, dizem médicos
No entanto, três médicos intensivistas, ouvidos pelo RJ1, dizem que esse modelo de respirador, lançado na década de 1980, é considerado ultrapassado.
Segundo os especialistas, eles deixaram inclusive de ser fabricados. Os médicos também estranharam o fato de a prefeitura ter pago mais de R$ 70 mil por cada máquina.
A reportagem mostrou que em um site de vendas na internet, o aparelho do mesmo modelo pode ser encontrado por até R$ 2.200. O preço pago pela prefeitura é 35 vezes maior.
A Prefeitura de Japeri declarou que esse foi o menor preço encontrado no Rio de Janeiro.
Nesta sexta, a prefeitura disse em nota que errou na digitação quando informou o modelo do respirador. Em vez de Bird 6400, diz que teria comprado o modelo 8400. Mas não é esse o modelo que aparece nas imagens enviadas pela própria prefeitura.
Médicos especialistas voltaram a ser ouvidos pelo RJ1 sobre o modelo do aparelho apresentado pela prefeitura. Eles afirmaram que esse outro modelo também é ultrapassado e custa menos da metade do que foi pago.
Via: G1
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