Vencedora do prêmio de Melhor Atriz do Festival Guarnicê de Cinema, da Universidade Federal do Maranhão, o quarto festival mais antigo do pa...
Vencedora do prêmio de Melhor Atriz do Festival Guarnicê de Cinema, da Universidade Federal do Maranhão, o quarto festival mais antigo do país, a atriz Juliana França, de 31 anos, acredita que o troféu representa a possibilidade de sonhar e de viver da cultura na cidade em que ela vive, Japeri, na Baixada Fluminense. Juliana venceu na competição de curtas-metragens pelo filme “Neguinho”, na edição de 2020 do evento, mas só recebeu a estatueta agora. Atualmente, ela participa da produção do filme “Amai-vos”, contemplado pela Lei Aldir Blanc, com estreia prevista para outubro.
— A única certeza que eu tenho é de que não ganhei esse prêmio sozinha. Acho que é a possibilidade de as gerações mais novas sonharem também, de mostrar que a gente pode. Eu estou em Japeri, sou de Japeri. Tenho maior orgulho de ser dessa cidade, mas o mundo lá fora está falando que não é possível para a gente conquistar esse tipo de coisa. E acho que esse prêmio mostra que é — afirma.
Para a atriz, o reconhecimento do seu trabalho é uma forma de incentivar e estimular os jovens da sua cidade, uma das mais pobres do estado e carente de ofertas culturais:
— Japeri é conhecida como a cidade do nada. E a gente fica muito impactado, porque vai assimilando isso e acreditando que a gente não pode, que não tem nada, que a gente não tem arte, não produz cultura, que a nossa cultura não é valorizada, não é importante. Acho que esse troféu simboliza a possibilidade de querer ser e poder ser artista, mesmo em territórios estruturalmente vulneráveis.
A jovem, que é mestre em Filosofia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e integra o Grupo Código há 14 anos, trocou as salas de aula pelos espetáculos em definitivo depois de seis anos trabalhando como professora em uma escola particular.
— Na minha casa, sempre tive muita aceitação da minha família. Eu sou professora, pedi demissão em fevereiro, mas eu só tive essa autonomia porque eu tenho meu trabalho artístico e eu ganho dinheiro com isso. Comecei a ganhar dinheiro com meu trabalho há dois anos só — conta.
O Grupo Código, companhia de teatro da qual ela é coordenadora artística, existe há 16 anos, e a sede, na Rua Davi, no bairro Nova Belém, é um ponto de cultura. O espaço oferece oficinas de teatro, que são gratuitas, conta com uma biblioteca, salas para ensaios e tem um cineclube, o Cine Belém, que tem como proposta a exibição de filmes independentes seguida de discussões. Por causa da pandemia, no entanto, as atividades presenciais estão paralisadas, e o espaço passa por uma reforma. As oficinas de teatro acontecem virtualmente, mas a expectativa é de que a casa possa reabrir em outubro.
O espaço cultural do Grupo Código, em Japeri, com a nova fachada pronta Foto: Divulgação
Durante a pandemia, mesmo sem as atividades, o Grupo Código chegou a se mobilizar para arrecadar e distribuir objetos e alimentos para a população da região.
— A gente distribuiu mais de 43 mil itens para a população. A gente recebia cestas básicas, roupas e kits de higiene pessoal para distribuir para pessoas em situação de vulnerabilidade — diz Juliana.
E o engajamento da atriz não parou por aí. Ela criou o movimento “Pela vida das nossas mães”, que reuniu filhos de empregadas domésticas com a proposta de remunerar, especialmente, as diaristas sem vínculo empregatício e sem amparo legal durante a quarentena.
— A gente conseguiu girar um capital de R$ 40 mil, que foi todo distribuído para trabalhadoras domésticas de 11 estados diferentes. A gente fazia mensalmente a transferência para essas mulheres de uma diária, que é de R$ 150 mais ou menos — conta Juliana.
A iniciativa, calcula ela, chegou a alcançar 250 mulheres chefes de família entre março e outubro do ano passado.
Via Extra
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